sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Juízo Final




O final da história da humanidade é o instante em que o homem, constituído para ser o mordomo sobre a criação na Terra, terá de prestar contas para o seu Criador.

INTRODUÇÃO
Deus fez o homem dotado de livre-arbítrio, ou seja, o homem foi feito com poder de escolha, com liberdade para fazer o bem ou o mal. Entretanto, a liberdade tem um outro lado: a responsabilidade. Desta forma, todas as escolhas feitas pelo homem trazem consequências, que devem ser suportadas pelo próprio homem. O homem, queira ou não, é responsável pelos seus atos e deverá prestar contas ao seu Criador.
A responsabilidade é, portanto, um traço da humanidade, uma característica ínsita à natureza humana e, por isso, todos os homens, salvos ou pecadores, têm de ser julgados diante d’Aquele que é o Senhor de todas as coisas, do nosso Deus. O último destes julgamentos é o chamado “julgamento final”, ou “juízo final” ou, ainda, “juízo do trono branco”,que é, propriamente, o tema de nossa lição.
I – OS JULGAMENTOS PREVISTOS PARA OS HOMENS
Na continuidade do terceiro e último bloco de nosso trimestre, em que estamos a ter uma visão superficial e muito breve do livro do Apocalipse, a partir do capítulo 4, estudaremos hoje o julgamento do mal, que se mostra a partir do capítulo 16 do livro do Apocalipse.
O homem é livre e, portanto, responsável pelas suas escolhas. Isto é consequência da sua natureza humana. Deus o fez assim e, portanto, cada ser humano, independentemente de obedecer a Deus ou não, tem de responder pelos seus atos. A prova disto é que a responsabilidade do homem lhe foi anunciada antes mesmo que tivesse pecado. Ao colocar o homem no jardim que havia formado no Éden, Deus disse ao homem que ele poderia comer de todas as árvores do jardim, com exceção da árvore do conhecimento do bem e do mal, tendo, então, estabelecido a responsabilidade: “…no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn.2:17b). Quando julgou o primeiro casal, Deus invocou esta responsabilidade (cfr. Gn.3:11) e, em virtude disto, sentenciou-os à expulsão do Éden e à separação entre Deus e o homem.

A partir de então, Deus estabeleceu o primeiro julgamento a que deve se submeter cada homem: o juízo após a morte física. Em virtude do pecado, Deus ordenou que os homens morressem fisicamente, o que não lhes havia sido determinado ao princípio: “…até que se tornes à terra, porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gn.3:19 “in fine”). A morte física é o primeiro julgamento que é feito ao homem em virtude dos atos que praticou durante a sua existência terrena. É o que vemos em Hb.9:27: “ e, como aos homens, está ordenado morrerem uma vez, vinde depois disso o juízo.”

A morte física é o primeiro instante do processo de julgamento de cada ser humano. Cada homem (ou seja, ser humano, homem ou mulher) foi constituído como mordomo da criação na Terra, ou seja, foi constituído por Deus para dominar sobre a Terra e sobre tudo o que nela existe, tendo de prestar contas ao Senhor após o término de seu trabalho, assim como se ilustra na parábola dos talentos (Mt.25:14-30) ou das minas (Lc.19:11-27). Com a morte física, temos o que, na atualidade, denominaríamos de “juízo preliminar” ou “juízo provisório”.
Neste julgamento, é decidido onde o indivíduo aguardará o julgamento definitivo, que se dará em momentos diferentes, conforme as opções feitas pelo homem durante sua vida. Dois são os locais onde os homens, atualmente, aguardam o julgamento: o Paraíso e o Hades. É oportuno observar que, enquanto os homens já mortos não são submetidos a julgamento, mantêm-se plenamente conscientes, como nos ensina Jesus na história do rico e Lázaro (Lc.16:19-31) ou nos mostra o próprio livro do Apocalipse, ao falar das mártires na Grande Tribulação (Ap.6:9-11).
O primeiro julgamento definitivo que ocorrerá será o julgamento da Igreja, daqueles que creram em Jesus e Lhe foram fiéis até o fim, pois, como nos diz o apóstolo Pedro, o julgamento começa pela casa de Deus (I Pe.4:17). Este julgamento faz-se necessário porque a Igreja, embora tenha alcançado a salvação pela fé em Jesus, é formada de seres humanos e todos os homens devem responder pelo que fizeram em sua existência, independentemente da sua condição espiritual, pois isto decorre da própria natureza humana e Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; Cl.3:25).

O julgamento da Igreja é o chamado “tribunal de Cristo”, que ocorrerá logo após o arrebatamento da Igreja, antes das bodas do Cordeiro. Neste tribunal, os crentes serão julgados pelas obras que tiverem feito por meio do corpo, ou bem, ou mal (Rm.14:10; II Co.5:10). Este julgamento não envolve salvação ou perdição, pois todos os crentes que forem arrebatados estarão salvos,porque lhes foi dada a “pedra branca da absolvição” (Ap.2:17), mas serão julgadas as obras com vistas à entrega de recompensas, do “galardão” (Ap.22:12).

Nesta oportunidade, muitos serão surpreendidos, pois Deus conhece o coração do homem (I Sm.16:7) e sabe a qualidade de tudo o que está sendo feito em Sua obra, não atentando para a aparência, como sói ocorrer conosco. Diante disto, muitos que, aparentemente, terão feito muito pela obra do Senhor, nada receberão, porquanto suas obras serão consideradas como palha, como madeira, sem condição de resistir ao crivo divino e outros, que, aparentemente, nada teriam feito pelo Senhor, receberão galardões, pois trabalharam em silêncio, sem alarde, mas com dedicação e real devoção. Os critérios do julgamento e o seu tratamento são descritos em I Co.3:12-15.

O segundo julgamento é o julgamento de Israel, o povo escolhido de Deus. A Grande Tribulaçãoserá o instante em que Deus tratará com a nação israelita e, ao término da Grande Tribulação, Deus terá provado este povo e só o remanescente será salvo.

Aqui, de imediato, vemos uma diferença entre quem fez parte do arrebatamento e quem não fez: enquanto que o julgamento da Igreja não envolve salvação ou condenação eternas, os demais julgamentos têm em vista o destino eterno dos indivíduos. Na casa de Deus, na Igreja vitoriosa e glorificada, os crentes não correm risco de perder a vida eterna, conquistada pela fé em Cristo Jesus, mas, tanto em Israel quanto entre os gentios, o julgamento divino envolve a possibilidade concreta e bem provável de se viver eternamente sem Deus e sem salvação.

Por isso, aproveitemos enquanto é dia, enquanto o Senhor está perto, na atual dispensação, para ouvirmos ao chamado do Senhor e O aceitarmos como nosso único e suficiente Salvador! Estamos ainda no ano aceitável do Senhor e não percamos esta oportunidade, a fim de fugirmos do dia da vingança do nosso Deus (Is.61:2). Não desprezemos o refrigério que nos é oferecido pelo Senhor (At.3:19).
O julgamento de Israel e das nações se dará ao final da Grande Tribulação. Quem aceitar a Cristo e rejeitar a besta alcançará a salvação em Israel. É o remanescente que será salvo (Rm.9:27), porque se arrependerão de seus pecados e aclamarão a Jesus como o Messias (Zc.12:10). Os que, entretanto, se deixaram levar pelas promessas do Anticristo e cerraram fileiras ao lado dele, estarão irremediavelmente perdidos.
Os mortos que morreram pela causa de Cristo durante a Grande Tribulação ressuscitarão e reinarão com Cristo durante o milênio, juntamente com a Igreja, após terem sido julgados pelas suas obras, no juízo que se estabelecerá logo após a batalha do Armagedom, o chamado “julgamento das nações” (Ap.20:4). Este julgamento terá como finalidade apartar os bodes das ovelhas, ou seja, decidir quem passará com Cristo o reino milenial e quem não passará o milênio, ficando a aguardar o julgamento final e definitivo. Neste julgamento, serão ressuscitados apenas aqueles que desfrutarão o milênio com Cristo, os bem-aventurados que completam o número daqueles que tomam parte da primeira ressurreição (Ap.20:6). Os demais indivíduos, com exceção do Anticristo e do Falso Profeta, que já terão sido lançados vivos no lago de fogo e de enxofre, que será inaugurado naquela oportunidade (Ap.19:20), aguardarão o julgamento que ocorrerá somente ao término do Milênio.
O terceiro e último julgamento previsto para a história da humanidade é o chamado “julgamento final” ou “juízo final” ou, ainda, o “juízo do trono branco”, que terá lugar depois do término do reino milenial de Cristo, em seguida ao juízo que porá fim a esta dispensação. Logo após os rebeldes serem devorados pelo fogo do céu que cairá sobre os exércitos que estarão a cercar o lugar santo em Israel (Ap.20:7-10), terá findado a história humana. O tempo deixará de existir (Ap.20:11) e Deus chamará à Sua presença todos os seres humanos que foram criados e que ainda não tinham sido julgados até então, ou seja, todos os homens que não pertencem nem à Igreja, nem ao Israel salvo nem ao grupo dos mártires da Grande Tribulação, que já terão sido julgados. Estes outros homens são os que serão levados a julgamento neste último grande tribunal da história.
II – O LANÇAMENTO DO JUÍZO DIVINO SOBRE A HUMANIDADE NA GRANDE TRIBULAÇÃO; O JULGAMENTO DAS NAÇÕES E A EXECUÇÃO DO JUÍZO SOBRE O DIABO E SEUS ANJOS
Conforme vimos na lição anterior, após ter sido dada a última oportunidade para a humanidade se arrepender, através da pregação do evangelho eterno por três anjos evangelistas, iniciar-se-á a “hora de segar”, o instante da colheita, o momento de os homens receberem o que merecem por não terem aceitado a Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador (Ap.14:14,15).
Sabemos todos que, em virtude do pecado, o homem se encontra irremediavelmente perdido e destituído foi da glória de Deus (Rm.3:23) e, sem Cristo, não lhe resta senão sofrer a ira de Deus, que sobre ele permanece desde o momento em que pecou (Jo.3:36).

No entanto, desde o instante em que Cristo veio ao mundo, iniciou-se o tempo da graça de Deus, que, tendo trazido a salvação aos homens, não permitiu que o juízo fosse lançado enquanto o homem vivesse sobre a Terra, dando-lhe oportunidade para que se arrependesse dos seus pecados. Assim foi que, durante largo tempo na história da humanidade, manteve aqui a Igreja, com a missão de pregar o Evangelho a toda a criatura por todo o mundo (Mc.16:15), testificando de Cristo até os confins da Terra (At.1:8), além de, por sinais, prodígios e maravilhas, confirmar a palavra de salvação que fora pregada (Mc.16:20; Hb.2:3,4).

Mesmo após o arrebatamento da Igreja, consoante estudamos na lição passada, o Senhor, na Sua infinita misericórdia, fez com que os 144.000 (cento e quarenta e quatro mil) e as duas testemunhas pregassem o Evangelho do reino, que levou à conversão de muitos, todos estes, como também vimos, inevitavelmente mortos pelo Anticristo.

Mas, desde que a Igreja foi arrebatada, o Senhor, também, ao lado da pregação do Evangelho do reino, não deixou de demonstrar o Seu desagrado para com os impenitentes, iniciando a demonstração do juízo divino, numa paulatina e longânima diminuição do exercício da Sua misericórdia.

Ao permitir a ascensão do Anticristo, fez com que um rastro de destruição e morte acompanhasse a falsa paz propalada pela besta, como se vê no tocante à abertura dos seis primeiros selos(Ap.6), sendo que, no sexto selo (Ap.6:12-17), temos a evidência da soberania divina, quando uma série de fatos da natureza revelam aos homens, sem qualquer dúvida, de que o Anticristo não era um deus, nem tampouco poderia ser adorado.

Em seguida à abertura do sexto selo, que é seguido pela proclamação do Anticristo como um deus, no auge de seu reinado, o Senhor dá prosseguimento o derramamento de Sua ira sobre o mundo, mas o faz ainda parcialmente, através das sete trombetas (Ap.8,9 e 11:15-19), ainda abrindo a oportunidade para que os homens se arrependam através da pregação angelical.

Terminada esta pregação, porém, chega o momento da ceifa, da colheita, pois “…Deus não Se deixa escarnecer, porque tudo o que homem semear, isso também ceifará” (Gl.6:7). Este tempo da colheita, aliás, foi anunciado tanto por João Batista (Mt.3:12; Lc.3:17) como pelo próprio Jesus (Mt.13:40-42).

Esta ceifa será determinada pelo próprio Senhor Jesus(Ap.14:14-16), que, aliás, desde o início do livro do Apocalipse, é apresentado, glorificado, não só como sumo sacerdote mas, também, como o supremo juiz.

Esta ceifa começa com o lançamento das sete taçasque consumam a ira de Deus sobre a humanidade impenitente (Ap.15:1), as sete últimas pragas em que o Senhor completa o juízo iniciado com as sete trombetas. Eis um breve sumário das sete taças:
a) primeira taça– uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem (Ap.16:2); b) segunda taça– morte de todas as criaturas marinhas (Ap.16:3), terminando-se, assim, o que havia sido iniciado com a segunda trombeta (Ap.8:8); c) terceira taça– as águas doces tornam-se em sangue, ou seja, deixam de ser potáveis (Ap.16:4), completando-se, assim, o juízo da terceira trombeta (Ap.8:10,11); d) quarta taça– os homens são abrasados com grandes calores, o verdadeiro “aquecimento global” (Ap.16:9); e) quinta taça– o reino da besta torna-se tenebroso (Ap.16:10); f) sexta taça– secam-se as águas do rio Eufrates e espíritos de mentira convencem os governantes do mundo a guerrear contra o remanescente de Israel para destruí-lo totalmente (Ap.16:12-16); g) sétima taça– o maior terremoto de todos os tempos (Ap.16:17-21).
Por ocasião do grande terremoto, quando as nações da Terra já estarão reunidas no vale de Josafá (Jl.3:2), também chamado de vale do Armagedom (Ap.16:16), sob o comando do Anticristo, para a destruição do remanescente fiel de Israel, que, tendo rompido com o Anticristo logo após ter ele se declarado deus e profanado no templo, fugiu para esta região da Judeia (Mt.24:15-22), terá início a destruição do sistema gentílico rebelde contra Deus, a “Babilônia” de que fala o texto do livro do Apocalipse (Ap.17,18).
Na batalha do Armagedom, o próprio Jesus, acompanhado da Igreja, aparecerá em glória nas nuvens dos céus e será reconhecido como o Messias pelos judeus que estarão na iminência de serem destruídos (Is.63:1-6; Ap.1:7; 19:11-19) e, mediante o reconhecimento dos judeus de que Jesus é o Messias, serão eles salvos e sobre eles se derramará o Espírito Santo, tornando-os o reino sacerdotal para o Milênio (Zc.12, 14; Jl.3).

O Senhor vencerá o Anticristo e o Falso Profeta, como também os seus exércitos, e as duas bestas serão lançadas vivas no lago de fogo e enxofre(Ap.19:20), inaugurando este terrível local, que foi preparado para o diabo e seus anjos (Mt.25:41).

Após o lançamento das bestas no lago de fogo e enxofre, o Senhor Jesus fará o julgamento das nações, ou seja, determinará quem participará do milênio e quem não o fará, separando, assim, os bodes das ovelhas (Mt.25:31-46). Todos que se levantaram contra Israel e creram nos espíritos de mentira que saíram da boca da trindade satânica, congregando-se contra o povo de Deus no vale do Armagedom (Ap.16:13,14), serão mortos (Ap.19:14).

Somente serão poupados, para participar do reino milenial de Cristo o remanescente de Israel e as nações que não se aliaram ao Anticristo, que não aceitaram pôr o sinal da besta em suas testas e mãos, que creram na mensagem da pregação angelical do evangelho eterno.

Em seguida a esta seleção, um anjo descerá do céu e aprisionará o diabo, que já terá sido precipitado na Terra por ocasião do início da manifestação da ira de Deus (Ap.12:7-9), lançando-o no abismo, lugar temido por todos os demônios (Lc.8:31; Jd.6), para que fique mil anos sem poder tentar a humanidade (Ap.20:1-3). “…O Senhor Jesus Cristo, o supremo juiz, já sentenciou Satanás a mil anos de prisão no abismo e não há advogado deste ou de qualquer outro mundo que possa anular ou mesmo atenuar esta sentença. Este abismo não é o inferno, o lago de fogo. O lago de fogo será inaugurado pela besta e pelo falso profeta (Ap.19:20). A prisão de Satanás terá duração de mil anos.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.128).

Ao término do milênio, o diabo será solto e voltará a enganar as nações, levando-as a se rebelar, uma vez mais, contra o Senhor. Os rebeldes se reunirão e cercarão Jerusalém, mas a rebelião será desfeita mediante a descida de fogo do céu que a todos devorará (Ap.20:7-10), ocasião em que o diabo, então, será, juntamente com seus anjos, lançado no lago de fogo e enxofre, onde já terão estado, há mil anos, as bestas.
“…A queda de Satanás nesta secção [Ap.20, observação nossa] alude, profeticamente, à queda de todos os poderes do mal, conforme se depreende da secção seguinte. Ele tinha já passado mil anos no abismo, mas isso foi uma ação intermediária. Agora, entretanto, ele sofrerá a sua derrota final e irá para seu destino. Finalmente, a cabeça da serpente é ferida para sempre (Gn.3:15). A vitória conseguida sobre o diabo no Calvário agora recebe operação completa. Sua queda será gradual. Ele será expulso dos ares para a terra e o mar no período da Grande Tribulação (Apo.12:9 e s.). Será aprisionado por mil anos (Ap.20:2 e s). E então, no texto em foco, derrotado completamente pela ação poderosa e imediata de Deus, mesclada de ira. Este capítulo do Apocalipse é a consolidação no que diz respeito a toda e qualquer revolta ou rebelião do ser humano ou de hostes espirituais do mal. O bem triunfará e o Cordeiro de Deus tirará definitivamente ‘…o pecado do mundo’ (Jo.1:29) e só existirá no Universo a semente do bem…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.258).
Temos, então, a execução do julgamento de Satanás e de seus anjos. Falamos em execução, pois o diabo e seus anjos já foram julgados no instante mesmo em que pecaram contra Deus. O próprio Jesus, em Seu ministério terreno, já afirmara que o príncipe deste mundo já estava julgado (Jo.16:11). Aqui haverá a execução, o cumprimento deste julgado.
III – O JUÍZO DO TRONO BRANCO
Como temos visto, Deus dotou o homem de liberdade e, portanto, o homem deve responder pelos seus atos. Esta responsabilidade exige um julgamento e Deus, como é justo, determina que todos os seres humanos sejam julgados pelos seus atos. Se entre os homens, tão falhos e imperfeitos, há a ideia de que é necessário fazer justiça, que podemos dizer de Deus, cujo caráter e natureza são em muito superiores aos dos homens?
Deus, então, não poderia, mesmo, em vista de Seu caráter, encerrar a história da humanidade sem que chamasse à responsabilidade cada ser humano pelos atos que tenha praticado durante a sua existência, a fim de definir se, na eternidade que se seguirá à história, poderá, ou não, desfrutar da convivência eterna com o seu Criador, que é o objetivo precípuo de todo o plano estabelecido por Deus ao homem (Ap.21:3).

O julgamento final é chamado de “juízo do trono branco”porque a narrativa bíblica se inicia com a visão de um “grande trono branco”, seguida da fuga da presença da terra e do céu (Ap.20:11). Ocorrerá depois do término do reino milenial de Cristo e, na Bíblia, este julgamento é explicitamente mencionado, pela primeira vez, por Daniel (Dn.7:9,10), sendo algo que era de pleno conhecimento dos judeus, como mostra Marta, irmã de Lázaro, quando se dirigiu ao Senhor quando Este chegou a Betânia quatro dias após a morte de Seu amigo (Jo.11:24).

Antes mesmo da profecia de Daniel, a ideia de que Deus julgará os homens não era desconhecida dos judeus. O Antigo Testamento já nos permite vislumbrar esta realidade de um julgamento divino em relação ao homem, como se vê, por exemplo, em alguns salmos, como os de número.50, 75 e 94.

O juízo do trono branco é o “último dia” da crença dos judeus, o dia em que todos irão ressuscitar e comparecer perante o Senhor para prestar contas do que tenham feito, entendido que não serão julgados nesta oportunidade nem a Igreja, nem os mártires da Grande Tribulação, nem o Israel salvo, que já terão sido julgados anteriormente, pois se constituem na “casa de Deus” (I Pe.4:17).
OBS: “…no último dia…se referia à noção judaica acerca do fim do mundo, isto é, do presente sistema mundano, quando o Messias chegasse a fim de estabelecer uma nova ordem neste mundo, restaurando a glória ao reino de Israel, ocasião em que haveria uma ressurreição geral dos justos, porquanto, segundo as ideias que os judeus faziam a respeito, os injustos ordinariamente não eram considerados dignos de fazer parte da ressurreição. O cristianismo, por outro lado inclui uma ressurreição geral para toda a humanidade, segundo se pode ver nos trechos de João 5:28,29 e Apo.20:4-6.…” ( CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento interpretado, com. Jo.11:24, v.2, p.468).
Jesus também menciona este julgamento, quando profere o Seu sermão escatológico, como vemos em Mt.25:31-46, onde, explicitando o que já havia sido predito em Dn.7:13, ou seja, de que Ele próprio, o Filho do homem, haveria de efetuar o julgamento, diz que este julgamento se iniciará logo após a Sua vinda triunfal em glória (o “julgamento das nações” mencionado supra) e terminará com o “juízo do trono branco”, quando, então, serão separados definitivamente aqueles que irão para o gozo eterno e os que padecerão o tormento eterno para todo o sempre (Mt.26:46). Este processo, iniciado no “julgamento das nações”, somente se findará no “juízo do trono branco”.

Este ensino de Jesus foi, depois, confirmado pelos apóstolos e pelos escritores do Novo Testamento. Paulo afirma que Jesus há de julgar os vivos e os mortos (II Tm.4:1), assim como Pedro (I Pe.4:5). Tiago, também, alerta para o fato de que todos serão submetidos ao julgamento divino (Tg.2:12,13; 3:1;4:12), assim como João (II Jo.8) e Judas (Jd.15).

A ideia de que Deus julgará os homens, aliás, é uma ideia que perpassa por todos os povos e civilizações, sendo uma demonstração de que se trata de um conhecimento dado ao homem desde as mais priscas eras, algo que o inimigo não conseguiu apagar da memória do ser humano, pois há certos aspectos da divindade que não podem ser eliminados, até porque os homens comparecerão diante de Deus sem condição alguma de se desculpar (Rm.1:18-20). Já entre os egípcios, havia uma crença a respeito do julgamento a que são submetidos os mortos, crença esta que alguns estudiosos entendem tenha até influenciado a concepção judaica a respeito do tema. De qualquer maneira, é uma daquelas noções que se encontram em todos os povos, a mostrar, claramente, que não há como alguém escapar do juízo divino.

Aliás, pelo que vemos nas Escrituras Sagradas, desde Enoque (Jd.14), o mundo tem sido confrontado com o julgamento divino, não tendo sido outro, aliás, o teor da mensagem de grandes homens de Deus ao longo da história da humanidade, como Noé (“o pregoeiro da justiça” – II Pe.2:5), Jonas (Jn.3:4 “in fine”) e João Batista (Lc.3:7-9).
IV – OBJETIVOS DO JULGAMENTO FINAL
Deus terá encerrado a história humana. Com o devorar dos últimos rebeldes com fogo descido do céu e a execução da sentença lançada sobre o diabo quando de sua rebelião contra Deus, dizem-nos as Escrituras que a terra e o céu fugirão da presença do Senhor (Ap.20:11), ou seja, chega-se ao clímax, ao término da existência do Universo relativo, da criação que o Senhor havia feito e posto sob o domínio do ser humano.
Assim, deixando de ter razão de ser a existência de todas as coisas que haviam sido criadas em função do homem, é chegado o instante de todos os seres humanos que já existiram e que ainda não foram julgados serem levados à presença do Criador, a fim de que prestem contas da mordomia de que foram investidos. Sem que isto ocorra, não é possível que sejam criados novos céus e nova terra, pois nosso Deus não é injusto nem Deus de confusão e a criação de novos céus e terra exigem a resolução de todas as questões morais pendentes na atual criação. Uma das finalidades do juízo final, portanto, é a de eliminar as pendências ainda existentes e, deste modo, ultimar e concluir a dimensão física hoje presente no Universo relativo.

Com o julgamento final, Deus, também, mostrará que é o Senhor de todas as coisas. Todo julgamento, nos nossos dias, é uma expressão de soberania, ou seja, de domínio e de poder. Toda vez que alguém é julgado por um tribunal, este tribunal está dizendo que o governo ou a organização a que ele pertence tem poder, tem supremacia, é superior a quem está sendo julgado, que, assim, lhe deve obediência. Não é por outro motivo, por exemplo, que os Estados Unidos têm se recusado a assinar o Tratado de Roma que criou o Tribunal Penal Internacional, uma corte que julga os crimes contra a humanidade, ligado à Organização das Nações Unidas, porque não aceitam a ideia de que a ONU possa lhes dizer o que devem fazer ou deixar de fazer com relação à segurança das nações.

No julgamento final, portanto, Deus irá mostrar que é o Senhor dos céus e da terra, que a terra Lhe pertence (Sl.24:1). É sintomático observar que a Bíblia diz que, ao se estabelecer a Corte Divina, terra e céu fogem da presença de Deus, porque “não se achou lugar para eles” (Ap.20:11), ou seja, não há quem possa sequer ter posição, lugar ou existência diante deste Deus, que é o Senhor de todas as coisas, o Eterno, Aquele que deu existência a tudo o mais.

Também é importante verificar que Deus Se instala como Soberano para julgar já tendo sentenciado o diabo e seus dois principais agentes (o Anticristo e o Falso Profeta), para nos ensinar, a nós que ainda estamos na dispensação da graça, de que só Ele é Soberano e que ninguém, nem mesmo o diabo, pôde, em algum momento, competir com Ele a respeito do controle e do domínio do mundo. O diabo nada governa nem nada tem, sendo apenas um ser atrevido e que tem agido única e exclusivamente por permissão divina, porque sua ação serve aos sublimes propósitos do Senhor. Assim sendo, não aceitemos os pensamentos, doutrinas e ensinos que procuram criar um falso dualismo entre Deus e o diabo no universo, pois “nosso Deus é Soberano, Ele reina desde a fundação do mundo”.

Mas, além da prova da Sua soberania sobre tudo e todos, o julgamento final também tem por finalidade fazer justiça. Deus tem exercido a Sua misericórdia e a Sua bondade desde o momento em que o homem pecou. Com efeito, expulsou o homem do jardim do Éden, mas não permitiu que ele tomasse do fruto da árvore da vida, impedindo-o de ter um destino eterno irremediável, como ocorreu com o diabo e seus anjos. Mas, apesar de ser bom e de Sua misericórdia alcançar todas as gerações (Ex.20:6; Dt.5:10), chegará o momento em que deverá executar a Sua justiça, pois Deus, além de ser amor, também é justo (Sl.11:7) e a justiça é a base do Seu trono (Sl.89:14; 97:2). Assim, se o julgamento final serve para mostrar a Soberania de Deus, também serve para mostrar a Sua justiça, pois, como indagou o próprio amigo de Deus, Abraão: “…não faria justiça o Juiz de toda a terra ?” (Gn.18:25).
A propósito, o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) demonstrou a existência de Deus precisamente pela necessidade de que haja um julgamento que restabeleça a ordem moral no universo. Como todos os homens são responsáveis, diz o filósofo, e, nesta vida, perduram situações de injustiça, em que as pessoas não respondem pelos danos e males cometidos, é evidente que tenha de haver um outro mundo em que se faça justiça e, naturalmente, que exista um Juiz, superior aos demais, que execute esta justiça. Vemos, portanto, que o julgamento final cumpre o propósito de demonstrar não só a existência divina, mas o Seu caráter justo, que nem sempre ficou evidenciado ao longo da história humana.
Ao fazer justiça, Deus irá mostrar a cada ser humano que há, sim, diferença entre o homem que serve a Deus e o que não O serve. Muitas vezes, no mundo, somos levados a ilusões e nos embaraçamos com as aparências, achando, como Asafe, que não há qualquer vantagem em se servir a Deus e se chega, mesmo, a invejar os ímpios (cfr. Sl.73). Entretanto, o julgamento final, de forma pública, notória e diante de todos os seres humanos que já existiram sobre a face da Terra, será mostrada a verdade patente, nua e crua de que vale a pena servir a Deus. Nesse dia, como profetizou Malaquias, “…vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que não O serve.” (Ml.3:18).

O julgamento final também tem o propósito de encerrar o cumprimento das promessas de Deus. Após ter restaurado todas as coisas, mostrando o Seu poder sobre o mal e o pecado, que é o objetivo precípuo do reino milenar de Cristo, o Senhor promoverá o cumprimento de tudo aquilo que prometeu e disse a cada ser humano que existiu: promessa de salvação àqueles que Lhe serviram e de condenação àqueles que não Lhe deram crédito, que contra Ele se rebelaram. É o momento do acerto de contas, da chamada à responsabilidade de todos os homens que, tendo recebido de Deus o livre-arbítrio, a liberdade, dela usaram como quiseram. Deus estará, então, finalizando o cumprimento da Sua Palavra para esta dimensão histórica.

O julgamento final é o triunfo do bem sobre o mal, a determinação da vida eterna para quem creu em Deus e O serviu e da morte eterna, a chamada “segunda morte” (Ap.20:14), para quem rejeitou a Deus e contra Ele se rebelou. Todos aqueles que se rebelaram contra Deus serão definitivamente julgados e lançados no lago de fogo e de enxofre, onde já estarão o diabo, o Anticristo e o Falso Profeta e os anjos caídos que, nesta oportunidade, terão, também, sido julgados (Jd.6), num julgamento que deverá ocorrer pouco antes da execução da sentença já lançada sobre Satanás e do qual participarão os santos do Altíssimo (cfr. I Co.6:9). O mal será extirpado e, então, terra e céus serão substituídos por nova terra e novos céus onde habitará a justiça (II Pe.3:13). Somente depois que a iniquidade, o pecado, a injustiça for retirada é que se poderá ter novos céus e nova terra, como nos ensina a Bíblia Sagrada e esta retirada se fará mediante o julgamento final.
V – OS FUNDAMENTOS DO JULGAMENTO FINAL
Todo julgamento tem de se basear em normas e regras que sejam claras e conhecidas de todos. Ninguém pode ser julgado sem que haja uma lei que sirva de critério e de base para este julgamento. É por isso que, na ciência jurídica, é sempre dito que a função de julgar nada mais é que “a atuação da vontade concreta da lei”, ou seja, a aplicação do que diz a lei para um caso concreto.
Os julgamentos divinos não fogem a este princípio, até porque este princípio adotado e acolhido pelos juristas é decorrência do que o próprio Deus estabeleceu para o homem, ao criá-lo e ao mundo onde ele vive.

O primeiro fundamento dos julgamentos divinos é a própria racionalidade humana, ou seja, a capacidade de entendimento de que o homem foi dotado por Deus, para ter consciência de si mesmo e do próprio Deus. Deus fez o homem um ser pensante, um ser racional precisamente para que ele pudesse saber que é um ser, que, enquanto ser, ocupa uma posição de inferioridade em relação a Deus e de superioridade em relação à criação na Terra, bem como que tem o poder de escolher entre obedecer a este Deus ou não. Consciência de si, de Deus, de sua posição na ordem universal e de sua liberdade, são os pontos da racionalidade humana e que são a primeira base para os julgamentos divinos.

Esta racionalidade e consciência geram uma liberdade que, como já vimos supra, traduz-se numa responsabilidade. Por mais que os homens possam ludibriar e enganar os seus semelhantes, conseguindo escapar aos julgamentos humanos, seja porque os homens não conseguiram obter provas suficientes para responsabilizar alguém, seja porque não houve interesse ou empenho dos julgadores em promover a responsabilização, o fato é que sempre o réu culpado sabe que está errado e que agiu contra a lei. Assim, ainda que seja absolvido, isto é, não seja responsabilizado num julgamento humano, o réu sabe muito bem que a solução correta e justa não seria esta, mas a sua condenação. Por quê? Porque a consciência recebida de Deus lhe mostra que ele está errado e que deveria ser condenado.

Vemos, portanto, o primeiro fundamento dos julgamentos divinos: o homem é livre e consciente e, portanto, responsável pelos seus atos. Sabe Deus, pois foi quem criou todos os homens, que não há um homem igual a outro em toda a história da humanidade. O Senhor conhece a estrutura de cada um (Sl.103:14) e, por isso, determinou que os julgamentos divinos sejam individuais. É importante observar que todos os julgamentos divinos são individuais: tribunal de Cristo – cada crente será julgado pelas suas obras; julgamento das nações – cada indivíduo de Israel e das nações gentílicas será julgado pelas obras apresentadas durante o período da Grande Tribulação para que se veja se é, ou não, digno de ingressar no milênio; julgamento final – cada um  dos seres humanos não incluídos nos julgamentos anteriores será julgado segundo as suas obras. Os julgamentos são individuais porque Deus avaliará o grau de consciência e de responsabilidade de cada um, a fim de que os julgamentos sejam justos.

Mas, além da consciência e da responsabilidade de cada indivíduo, Deus, também, usará a Sua revelação como fundamento para o julgamento. Vimos que todo julgamento tem de se basear em uma lei e, além da consciência e responsabilidade, que são regras, normas inseridas por Deus em cada ser humano, há, também, a revelação do próprio Deus ao homem ao longo de toda a história da humanidade.
Deus, conhecendo a fragilidade do homem, mormente depois que caiu e se apartou do seu Criador, sempre teve interesse e desejo de Se revelar ao homem, fazendo-o seja pela natureza, seja por Israel, seja pela Sua Palavra, seja pelo Seu Filho (em carne, pela Igreja, pelos pregadores da Grande Tribulação, pelos anjos do evangelho eterno). Deus não quis deixar apenas sob um aspecto subjetivo, interno, pessoal de cada indivíduo o critério para alicerçar uma responsabilização, um julgamento, mas, por meio de elementos puramente objetivos, externos a cada ser humano, mostrou-Se ao homem, a fim de que ele pudesse conhecer qual era o caráter de Deus e ao que deveria se assemelhar. Esta revelação divina, portanto, será o critério e um dos fundamentos dos julgamentos divinos.
Aqui, também, se explica porque cada julgamento será individual. Deus irá tratar a cada indivíduo conforme a revelação divina que teve. É, aliás, este o sentido da expressão de Rm.2:12, onde Paulo diz que os que sem lei pecaram, sem lei serão julgados e os que conheceram a lei, pela lei serão julgados. Nesta passagem, Paulo nos mostra, com a clareza que lhe era peculiar, que Deus levará em conta, no julgamento, o tipo de revelação que a pessoa teve de Deus, a fim de que, segundo esta revelação, seja verificado se houve, ou não, observância e obediência ao Senhor. Lembremos, desde já, embora venhamos a tratar do assunto amiúde mais abaixo, que nenhum homem poderá se desculpar e dizer que não teve como perceber a revelação de Deus a si (cfr. Rm.1:18-20).

Mas, um julgamento justo não se baseia apenas nas normas e regras abstratas, mas, como deve ser a aplicação da lei ao caso concreto, é preciso que se apresentem, também, fatos, provas que demonstrem ter ocorrido a observância, ou não, da lei. É por isso que os julgamentos divinos não têm apenas a consciência, a responsabilidade do indivíduo que está sendo julgado ou a revelação divina a este indivíduo, mas também os registros de tudo aquilo que ele fez enquanto existiu sobre a face da Terra. É este o sentido dos “livros” mencionados em Ap.20:12 “in fine”. Não pensemos que haja um cartório no céu, com livros e mais livros, como os nossos cartórios judiciais e extrajudiciais, onde fisicamente haja registros das obras de cada indivíduo que já viveu sobre a face da Terra. Trata-se, evidentemente, de uma figura, de um símbolo, mas, sem dúvida alguma, estão registrados diante de Deus todos os atos praticados por todos os indivíduos e estes atos serão apresentados no momento do julgamento, diante de cada réu. O justo juiz mostrará a justiça julgando sempre com provas.

Abrimos aqui um parêntese no assunto da lição apenas para lembrar a todos nós que, sendo servos do Senhor e tendo de ser a Sua imagem e semelhança, de modo algum podemos proceder de forma diversa da que procede o nosso Deus. Se Deus que é onisciente, ou seja, sabe de todas as coisas; onipresente, ou seja, está em todos os lugares ao mesmo tempo e onipotente, pode todas as coisas, não dispensa a existência de provas para julgar alguém, por que eu e você, muitas vezes, aceitamos e julgamos as pessoas sem que tenhamos qualquer prova ou o menor indício? Por que confiar no “ouvir dizer” ou nas aparências, muitas vezes vindas de meios de comunicação altamente comprometidos e sem qualquer compromisso com Deus e, portanto, com a verdade? Pensemos nisso e mudemos nosso comportamento o quanto antes, porque, se continuarmos a agir erradamente, isto, sim, estará devidamente provado naquele dia…

Outro fundamento dos julgamentos divinos e, portanto, do julgamento final é o direito de defesa. Todos os julgamentos somente se justificam por causa do direito de defesa. Deus irá julgar um por um dos indivíduos que existiram sobre a face da Terra (e isto literalmente, se considerarmos os três julgamentos), única e exclusivamente para dar oportunidade aos julgados para se manifestar e ter acesso às provas e à aplicação das normas ao caso concreto. Não fosse este o motivo, o Senhor teria lançado os ímpios, de imediato, no lago de fogo e de enxofre, assim como fez com o Anticristo e o Falso Profeta, que assim serão tratados porque desafiaram abertamente a Deus e se deixaram dominar pelo diabo, num nível de rebeldia igual ao de Satanás, de plena consciência e rejeição ao senhorio divino. Com relação aos outros homens, porém, Deus lhes mostrará a Sua justiça, permitindo-lhes que se manifestem, assim como fez com os nossos primeiros pais (Gn.3:8-11).  Tanto assim é que vemos os julgados, mesmo condenados, manifestando-se no julgamento final, como, por exemplo, em Mt.7:22 e Mt.25:44. Teremos um efetivo direito de defesa, inclusive com direito ao uso de palavra. Que Deus justo é o nosso Deus!
Não é por outro motivo que os juristas costumam chamar o direito de defesa de sagrado, já que o primeiro registro de sua criação e exercício remonta ao próprio Deus, neste episódio do Jardim do Éden. Aqui, aliás, abrimos um outro parêntese: se Deus que é Deus dá a cada ser humano na face da Terra a oportunidade de defesa, por que nós, muitas vezes, queremos suprimi-lo de nosso semelhante? Seríamos mais justos do que o Senhor, do que o Juiz de toda a Terra?
Outro fundamento dos julgamentos divinos é a sua publicidade. Todos os julgamentos divinos são públicos, são feitos à vista de todos os envolvidos. O tribunal de Cristo é feito diante de toda a Igreja arrebatada; o julgamento das nações e o julgamento final são vistos diante de tronos, numa típica cerimônia pública, onde todos os homens de todos os tempos estarão reunidos para se submeter ao Senhor dos senhores e Rei dos reis. Tanto assim é que Paulo afirma que, nesta oportunidade, ocorrerá a suprema exaltação de Cristo e todo o joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor (Fp.2:9-11).

Se Deus faz as coisas publicamente, à vista de todos, por que muitos insistem, inclusive na Igreja, que é o corpo de Cristo, em promover julgamentos às ocultas, às escondidas? Não devemos agir assim, até porque, se os membros da igreja local não veem, saibam todos que tudo o que se passa é visto pelo Senhor e, como diz o escritor aos Hebreus, “não há criatura alguma encoberta diante d’Ele, antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos d’Aquele com quem temos de tratar.”(Hb.9:13). Abramos nossos olhos e sigamos a publicidade demonstrada pelo caráter justo do Senhor, porque “…nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto, que não haja de saber-se” (Mt.10:26b), a fim de que não recebamos o mesmo juízo lançado sobre Davi, a saber: “porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol” (II Sm.12:12).

Logicamente que, quando dizemos que os julgamentos nossos devem ser públicos, a exemplo dos julgamentos divinos, devemos manter a mesma sobriedade e dignidade que o Senhor manterá nestes julgamentos. Em momento algum, mesmo quando vemos o Senhor condenando os homens, vemo-l’O humilhando ou retirando a dignidade humana de qualquer julgado. A própria sentença de condenação do Senhor não tem sequer uma palavra de injúria ou de ofensa aos condenados. Diz o Senhor tão somente o necessário, sem humilhar quem quer que seja. “Nunca vos conheci, apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt.7:23). “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; sendo estrangeiro, não Me recolhestes; estando nu, não Me vestistes; e enfermo e na prisão, não Me visitastes.” (Mt.25:41b-43). Qual diferente é o Senhor de certos indivíduos que, por se acharem autoridades eclesiásticas, sob a desculpa da publicidade, ao invés de darem a sentença, preferem ofender e injuriar as pessoas!

Por fim, outro fundamento dos julgamentos divinos é a imparcialidade e retidão do julgador. Dizem as leis humanas que um julgamento, para que seja justo, deve ser exercido por um juiz que seja imparcial, ou seja, não tenha qualquer inclinação para uma parte ou outra, como também que seja um juiz correto, uma pessoa de que tenha ilibada reputação. Nestes dois requisitos, vemos que os julgamentos divinos trazem o que de mais excelente há nesta matéria. Deus é imparcial, é a própria imparcialidade personificada, pois, para Ele, não há acepção de pessoas (Dt.10:17; Cl.3:25). Deus estará tratando a todos os homens igualmente, pois o julgamento final, inclusive, é para que prevaleça esta regra da imparcialidade, pois, com este episódio, todos os indivíduos terão tido a oportunidade de defesa antes de terem selado o seu destino eterno. Com respeito à reputação do Senhor, Ele é santo (Lv.11:45; I Pe.1:15) e terá demonstrado todo o Seu poder e fidelidade ao longo da história humana. Por isso, até, o julgamento final se realizará no final da história, para que o Senhor demonstre, cabalmente, a Sua dignidade para julgar os vivos e os mortos.
Vemos, portanto, que os julgamentos divinos têm como fundamentos os princípios mais límpidos e seguros de toda a justiça, possuindo todos os requisitos que, há séculos, os próprios homens tentam, sem êxito, impor aos seus próprios julgamentos. Indubitavelmente, todos aqueles que se submeterem ao julgamento final estarão sendo justa e retamente julgados.
VI – COMO SE DARÁ O JULGAMENTO FINAL
Lançado o diabo no lago de fogo e de enxofre, cessará o tempo histórico e será instalado o grande tribunal, a ser presidido por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, o Filho do homem que se apresenta ao ancião de dias na visão do profeta Daniel (Dn.7:13).
Instalado o tribunal, ante o grande trono branco, onde estará assentado Aquele que julgará os vivos e os mortos, ou seja, Jesus Cristo, serão chamados os réus, que são todos os homens e mulheres que ainda não tiverem sido julgados até então, ou seja, aqueles que não tomaram parte na primeira ressurreição e os que não foram submetidos ao julgamento das nações antes do início do Milênio (os que ficaram vivos no início do Milênio, sobreviventes da Grande Tribulação).

Neste instante da chamada dos acusados, haverá a ressurreição geral dos mortos, ou seja, a chamada “ressurreição do último dia”, mencionada por Marta quando abordada por Jesus no dia da ressurreição de Lázaro em Betânia e que é a ressurreição que é sempre mencionada nos rituais católicos romanos. Esta ressurreição será uma ressurreição em carne, ou seja, Deus promoverá a reunião da matéria e restabelecerá os corpos daqueles que, durante toda a história da humanidade, viveram sobre a face da Terra. Esta é uma das provas bíblicas de que ressurreição não se confunde com reencarnação, pois se Deus irá retomar toda a matéria de que foram criados os homens que viveram durante toda a história da humanidade dos locais em que eles morreram (Ap.20:13), isto é uma demonstração de que se morre apenas uma vez sobre a face da Terra, ao contrário do que afirmam os reencarnacionistas. Ainda mais, não há notícia de que venha a ser ressuscitado qualquer corpo que venha de outro planeta, a comprovar, também, que a teoria reencarnacionista, que sustenta a vida em outros planetas para justificar o crescimento populacional, não tem qualquer fundamento bíblico.

Esta ressurreição difere da primeira ressurreição, porquanto, nesta, como se vê em Ap.20:6, há uma bem-aventurança, enquanto naquela, o texto sagrado silencia, a indicar que sua ocorrência não traz, a princípio, qualquer benefício. Na primeira ressurreição, os que ressurgem, é verdade, não escapam do julgamento divino, mas escapam da condenação, estão salvos e ressurgem para reinar com Cristo. Os que ressurgem por conta do julgamento final, porém, além de não escapar do julgamento divino, não têm, por força da ressurreição, qualquer garantia de salvação. Por fim, na primeira ressurreição, o Paraíso, onde ficavam os que morriam no Senhor, será esvaziado, pois, depois do arrebatamento da Igreja e da complementação da primeira ressurreição, não haverá mais qualquer alma naquele local; já na outra ressurreição, promover-se-á o esvaziamento do Hades, onde estarão aqueles que não dormiram no Senhor e que estarão, por isso, esperando o julgamento definitivo sem ter a certeza da salvação.

É importante observar que a Bíblia diz que Jesus julgará os vivos e os mortos (II Tm.4:1; I Pe.4:5), pois, além dos mortos de todas as épocas que serão ressuscitados nesta oportunidade, também serão levados a julgamento as pessoas que estiverem vivas e assim se mantiverem por ocasião do término do Milênio, pois não serão todos os homens que se rebelarão contra o Senhor e contra Israel na rebelião final. Estas pessoas não terão morrido e compõem os vivos mencionados nos textos sagrados referidos.

Operada a ressurreição e a eles congregados os que estiverem vivos naquela oportunidade e não tiverem sido ainda julgados, que é a chamada dos acusados, o Juiz passa, então, a julgar um a um os indivíduos. Este julgamento terá, como já vimos, a apresentação das normas e regras aplicáveis a cada caso, a apresentação das provas, ou seja, dos atos cometidos pelo acusado, a oportunidade para a sua manifestação e a sentença final, que não terá recurso, vez que se trata da mais alta autoridade do Universo que está proferindo o julgamento e isto à vista de toda a humanidade e, quando dizemos toda a humanidade, não estaremos usando qualquer força de expressão, pois ali estarão presentes não só os acusados, mas também todo o povo dos santos do Altíssimo (cfr.Dn,7:27: Igreja, os que tomaram parte na primeira ressurreição e o Israel salvo).

Neste momento, é importante salientar que, ao contrário do que muitos afirmam, este julgamento não terá apenas condenação. Muitos entendem que o juízo do trono branco será apenas para condenação, mas não podemos extrair isto das Escrituras Sagradas. O texto bíblico afirma que, na análise das normas e das provas, isto é, da abertura dos livros, inclusive do livro da vida (Ap.20:12), os mortos são julgados segundo as suas obras, não diz, portanto, que são condenados segundo as suas obras, o que nos permite inferir legitimamente que não haverá sempre condenação, como muitos advogam por aí. A Bíblia diz apenas que aquele que não foi achado no livro da vida será condenado (Ap.20:15), livro da vida este que não é o mesmo livro da vida do Cordeiro que é mencionado em Ap.21:27.

O livro da vida do Cordeiro é o livro onde estão escritos os nomes daqueles que vão ingressar na Nova Jerusalém, ou seja, na cidade santa que descerá aos novos céus e terra no Estado Eterno e que será o objeto de nosso estudo na próxima lição (Ap.21:27). É uma espécie de passaporte, de visto, de “green card” para a cidade santa. Sendo assim, neste livro estarão tanto o povo dos santos do Altíssimo quanto aqueles que serão absolvidos e declarados salvos no julgamento final. Este livro só será aberto por ocasião do julgamento final e, mesmo não conhecendo seu teor até lá,  sabemos que, deste livro, já estão fora, de antemão, todos aqueles que adorarem a besta na Grande Tribulação, porque esta adoração importará numa consciente e deliberada rejeição de Jesus (Ap.13:8 e 17:8).

O livro da vida mencionado em Ap.20:12, porém, é um outro livro, onde estarão apenas aqueles que serão julgados e absolvidos no julgamento final. Do livro da vida não consta o povo dos santos do Altíssimo, porque eles já terão sido julgados e não o serão novamente por ocasião do julgamento final e, o que é relevante, segundo muitos estudiosos, já terão, inclusive, entrado na Nova Jerusalém. Desta maneira, não sendo réus no julgamento final, não há como serem vistos no livro da vida, mas, por estarem ou terem direito de estar na Nova Jerusalém, terão seus nomes inscritos no livro da vida do Cordeiro, o que prova que se trata de dois livros diferentes, que não podem ser confundidos.
Daí temos a convicção de que, no julgamento final, haverá, sim, pessoas que se salvarão do lago de fogo e de enxofre e que ingressarão na nova Jerusalém. É precisamente aqui se resolvem muitas dúvidas a respeito da salvação de pessoas que não tiveram qualquer oportunidade de ouvir falar de Jesus (como os índios que moravam no Brasil até a época do descobrimento) ou das pessoas que viveram antes de Jesus e não tiveram como aceitá-l’O nem de chegar ao conhecimento da promessa messiânica (como os chineses do tempo de Confúcio ou Lao-tsé e os indianos do tempo de Buda). A Bíblia é clara ao afirmar que estas pessoas serão julgadas segundo as suas obras e estas obras terão de mostrar se, à luz da revelação que tiveram de Deus, foram, ou não, capazes de Lhe obedecer. Caso tenham sido obedientes a Deus, diante da revelação que tiveram de Deus, suas obras o demonstrarão e, assim, seus nomes estarão escritos no livro da vida e, portanto, serão achados dignos de ingressar na nova Jerusalém. Se, porém, não tiverem sido obedientes a Deus conforme a revelação que tiveram, seus nomes não estarão inscritos no livro da vida e, assim, serão condenados e lançados no lago de fogo (Ap.20:15).
É importante ressaltar, aqui, que Deus tem várias formas de revelação, mas que todo e qualquer ser humano terá tido a oportunidade clara de conhecer a Deus e à Sua vontade. Escrevendo aos Romanos, Paulo é bem categórico ao dizer que nenhum homem poderá se desculpar diante de Deus, dizendo não ter podido perceber a revelação do Senhor. A própria natureza, diz o apóstolo, é uma manifestação divina para que os homens fiquem inescusáveis, isto é, sem desculpa (Rm.1:18-20). A combinação das normas a serem utilizadas no julgamento (consciência, responsabilidade, formas de revelação divina) bem como os fatos registrados, ou seja, os atos praticados devidamente registrados, não deixam qualquer margem para que se tenha qualquer injustiça.

OBS: “…Existe uma pergunta no meio da cristandade e até fora dela baseada nos versículos 11-15 que temos nesta seção [Ap.20:11-15, observação nossa]: ‘ como serão julgados aqueles que morreram sem ouvir o Evangelho ?’. Essa pergunta, quando dentro da lógica da visualização do homem, pode ultrapassar qualquer possibilidade de entendimento da mente humana. Mas é evidente que Deus tem falado e vem falando ao homem de ‘muitas maneiras’ (Hb.1:1). Paulo diz que o Evangelho foi ‘pregado a toda criatura que há debaixo do céu’ (Cl.1.23). Deus pode alcançar, através de seus métodos, a todos os homens. Vejamos alguns dos métodos de Deus: (a) Deus fala através do Universo(…) Sl.19.1-4; (b) Deus fala através da percepção(…) Rm.1.19-20; (c) Deus fala través da consciência(…) Rm.2:14-16; (d) Deus fala através da vida dos animais(…) Jó 12:7-9; (e) Deus fala através dos meios geográficos (…)At.17.30-31(f) Deus fala através de sonhos (…) Jó 33.14-18; (g) Deus fala através dos anjos (…) Ap.14.6; (h) Deus fala través de Seu Filho (…) Hb.1.1; (i) Deus fala através de sinais e milagres (…) Hb.2.4a.(…) Perguntamos agora: havendo Deus falado tanto e de tantas maneiras, chegará alguém inocente diante do Grande Trono Branco?…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo.2.ed., p.260-1).
Feito o julgamento, proceder-se-á à imediata execução, pois não se estará mais no instante da misericórdia divina ou da Sua longanimidade, manifestada ao longo de toda a história, mas no instante final da execução, da retirada dos obstáculos morais para a instalação dos novos céus e nova terra. Assim, terminado o julgamento, segue-se à imediata execução dos julgados, com o lançamento no lago de fogo de enxofre dos condenados (Ap.20:15).
Além dos condenados, a Bíblia também diz que, no lago de fogo, serão lançados tanto a morte quanto o Hades (Ap.20:14). Aqui temos, evidentemente, uma figura de linguagem, pois nem a morte nem o Hades são pessoas e, portanto, não se equiparam a elas para ser julgadas e sentenciadas. O fato é que, com o julgamento definitivo de todos os seres humanos, a morte física e o Hades, lugar onde ficavam os mortos aguardando o julgamento definitivo (lembremos que, desde o arrebatamento da Igreja e a primeira ressurreição, o Paraíso, onde eram colocados os que dormiam no Senhor, esvaziara-se), perdem completamente a sua razão de ser. Com efeito, os homens já foram definitivamente julgados e ninguém mais nascerá ou morrerá a partir de então, de modo que a morte física deixará de cumprir o seu papel, pois terá findado a dimensão surgida com o pecado do primeiro casal e, de igual modo, o Hades não terá porque existir. Por isso, dizem as Escrituras, eles serão lançados no lago de fogo, ou seja, serão simplesmente eliminados, não mais existirão.
Deus terá, então, cumprido plenamente o Seu plano para o homem neste Universo relativo, pendência alguma terá ficado e, assim, poderá instituir os novos céus e nova terra onde habitam a justiça e trazer, para eles, a cidade já há muito preparada para conviver eternamente com a sua criação: a Jerusalém celestial.

sábado, 10 de novembro de 2012

A Conspiração dos Inimigos contra Neemias -


INTRODUÇÃO:

Os inimigos da obra de Deus tudo farão para impedir a expansão do Seu reino. Hoje atentaremos para a conspiração dos inimigos contra Neemias. A princípio destacaremos as estratégias do inimigo a fim de atrasar o avanço da obra. Em seguida, analisaremos a trama dos inimigos para atingir Neemias, já que esse estava em posição de liderança na condução dos trabalhos. Por fim, apontaremos as convicções do servo do Senhor que fizeram diferença diante das ameaças dos inimigos.
1. AS ESTRATÉGIAS DOS INIMIGOS
Os inimigos não dão trégua e tentam de várias maneiras atrapalharem o desenvolvimento da obra de Deus. Neemias passou por várias afrontas dos seus opositores: desagrado (Ne. 2.10), zombaria (Ne. 2.19), escárnio (Ne. 4.1), humilhação (Ne. 4.2), chacota (Ne. 4.3), confusão (Ne. 4.8), violência (Ne. 4.11) e boatos (Ne. 4.12). Eles recorreram a diversas estratégias no intuito de dificultar o progresso da obra, dentre elas destacamos: 1) a distração - como as portas ainda não havia sido postas no devido lugar, os adversários tentaram retirar os obreiros do foco sobre a tarefa a ser desenvolvida (Ne. 6.1); 2) a negociação - quando os opositores não conseguem êxito em sua empreitada contra os servos de Deus, eles buscam barganhar, com vistas a tirarem alguma vantagem (Ne. 6.2); 3) a maldade - os adversários queriam conduzir Neemias para um local distante, fora da zona de segurança, com essa proposta pretendiam mata-lo (Ne. 6.2); 4) o cansaço - os inimigos não desistem, a insistência visa levar os servos de Deus ao cansaço (Ne. 6.4); 5) a boataria - os opositores da obra de Deus recorrem a essa estratégias; por meio do falso testemunho querem denegrir a imagem da liderança (Ne. 6.4-7); 6) a chantagem - através de tais recursos os adversários pretendem demonstrar aos servos de Deus que não há saída, que eles estão encurralados (Ne. 6.7); e 7) o medo - os adversários sabem que o temor pode fazer com que as pessoas fiquem paralisadas, por isso, tentam amedrontar os servos de Deus (Ne. 6.9). Essas estratégias utilizadas pelos inimigos da obra de Deus nos tempos de Neemias ainda se repetem nos dias atuais. Através dos recursos da mídia, ou de aparatos jurídicos, os opositores do Reino de Cristo tentam intimidar os que servem ao Senhor.
2. AS CONSPIRAÇÕES DOS INIMIGOS
Os inimigos da obra de Deus conspiraram contra Neemias, eles arquitetaram um plano para aniquilá-lo. O desejo deles era o de sequestrar o servo do Senhor, por isso queriam conduzi-lo para uma das aldeias da planície de Ono. Tratava-se de um lugar que ficava entre Samaria e Jerusalém, a meta dos adversários era destruir aquele que era o principal representante na reconstrução da obra de Deus. Lutero, o reformador protestante, também passou por situações semelhantes diante do poder religioso. Os líderes da igreja oficial, aliados às forças políticas da sua época tentaram sequestra-lo a fim de que a reforma fosse abortada. As autoridades contrárias ao controle papal foram usadas por Deus para proteger o reformador. Por isso, antes de uma emboscada com o intuito de mata-lo, preservaram a sua vida, e levaram-no a um lugar seguro, onde conclui a tradução da Bíblia para o alemão. Neemias revelou ser um homem resoluto, ele sabia que estava investido de uma grande responsabilidade, por isso não se deixou levar pelas distrações dos inimigos (Ne. 6.3). Ele estava convicto do seu chamado para aquele ministério, por esse motivo, mesmo com a insistência dos opositores, Neemias se mostrou inflexível. Nem mesmo as falsas acusações do inimigo foram capazes de tirar o servo do Senhor do seu alvo. Em resposta a intimidação dos adversários, Neemias se mostrou confiante em Deus. Ele sabia que o Senhor é soberano (Ne. 1.5; 2.4,20), sábio (Ne. 2.12), poderoso (Ne. 4.14,20), misericordioso (Ne. 9.17), compassivo (Ne. 9.19) generoso (Ne. 9.19) e paciente (Ne. 4.14,20). Quando conhecemos nosso Deus não temos motivos para temer. A confiança no Senhor é fortalecida através da oração, por essa razão, Neemias está sempre se dirigindo ao Deus de Israel (Ne. 6.14). A ausência de oração na vida do líder, e de todo cristão, faz com que ele veja os inimigos e os problemas maiores do que eles realmente são.
3. CONVICÇÃO DIANTE DOS INIMIGOS
O êxito de Neemias durante o período de reconstrução dos muros de Jerusalém, mesmo diante das conspirações dos inimigos, é resultado das suas convicções. Paulo, ao escrever ao jovem Timóteo, revelou-lhe que sabia em quem havia crido (II Tm. 1.12). Os discípulos não se intimidaram com as afrontas das autoridades religiosas. Eles sabiam que Jesus havia ressuscitado dos mortos, por isso testemunhavam do evangelho com ousadia (At. 4.29-37). Sem convicções firmes na Palavra de Deus, o líder cristão acaba se tornando presa fácil dos inimigos. Neemias era um homem de fé, por isso ele priorizou a revitalização do culto ao Senhor (Ne. 7.1). Em alguns contextos evangélicos, a Palavra de Deus está sendo relegada a segundo plano. Há líderes cujos interesses não se coadunam com os princípios escriturísticos, estão preocupados apenas com a obtenção de poder e riqueza, ainda que, para tanto, subvertam a doutrina bíblica. Um líder convicto da sua fé em Deus não faz aliança com indivíduos que comprometam sua idoneidade cristã. Neemias procurou se aproximar de pessoas que o ajudassem e que fortalecessem o projeto de Deus (Ne. 7.2). Mesmo confiando no Deus de Israel, Neemias não fez pouco caso dos perigos que precisava enfrentar (Ne. 7.3), por esse motivo ele planejou a execução de tarefas que protegessem o povo de Deus (Ne. 7.4). É admirável, e serve de inspiração para todo cristão, a capacidade de Neemias de sacramentar cada uma das suas atitudes. Qualquer responsabilidade desempenhada na reconstrução dos muros era motivo de oração, em tudo se buscava a direção divina (Ne. 7.5). Os princípios bíblicos não podiam ser descartados, o planejamento não teria efeito se não fosse executado de acordo com os parâmetros estabelecidos por Deus em Sua palavra (Ne. 7.61-65). A ganância e o materialismo, que se constituem um problema para os cristão deste tempo, foram atacados por Neemias, ao invés de incentivar a prosperidade individual ele estimulou o povo a exercitar a generosidade (Ne. 7.66-73).
CONCLUSÃO:
A conspiração dos inimigos contra a obra de Deus é constante, esse é o motivo do povo de Deus permanecer atento, exercitando o discernimento espiritual (Ne. 6.2), a fim de identificar a relevância do serviço que estamos desempenhado, não especificamente para homens, mas para Deus (Ne. 6.3). Diante das ameaça, é preciso ter cautela, não se adiantar e demonstrar prudência espiritual, não falar mais do que necessário e permanecer firme nos propósitos estabelecidos pelo Senhor (Ne. 6.4). Se assim agirmos, demonstraremos integridade espiritual diante das afrontas do Inimigo, a convicção no que cremos, com base na Palavra de Deus, e a prática da oração serão fundamentais para resistir as tramas dos adversários (Ne. 6.6-8).
BIBLIOGRAFIA
BROWN, R. The message of Nehemiah. Downer Grove: IVP, 1998.
LOPES, H. D. Neemias. São Paulo: Hagnos, 2006.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Quem São os Filhos de Abraão?
Os muçulmanos, com aproximadamente 1,3 bilhões de adeptos, são encontrados em centenas de grupos étnicos diferentes ao redor do mundo e, possivelmente, três quarto das pessoas do mundo muçulmano não possuem antecedentes árabes. Contudo, o estilo de vida e cultura árabe de Maomé influenciou profundamente o islamismo.
A herança bíblica árabe é geralmente esquecida ou desconhecida por muitos. Talvez saibamos que Ismael se tornou um príncipe árabe e o fundador de muitas tribos árabes, porém, nosso conhecimento sobre a herança bíblica árabe é superficial.
Abraão é o pai de todos os que crêem. De acordo com as promessas de Deus, cada um é bendito ou maldito, dependendo da sua relação com o pai da fé. Ao longo da história, cristãos, judeus e muçulmanos buscam ostentar seu vínculo com o pai da fé.
A Bíblia é uma grande fonte de informações a respeito das genealogias árabes. E os árabes são um povo semita (descendentes de Sem), tanto quanto os judeus (Gn 10.21-32).
Segundo algumas fontes de pesquisa, existem, no mínimo, três tipos de árabes no Oriente Médio: os jotanianos (da linhagem de Jotão, filho de Gideão), os ismaelitas (da união de Abraão com Hagar) e os queturaítas (da união de Abraão com Quetura).
Todos querem pertencer à família de Abraão. Mas todos os árabes são descendentes de Ismael? Quem são os verdadeiros filhos de Abraão? Os árabes que afirmam ser descendentes de Abraão por meio de Ismael também estão incluídos nas promessas de bênçãos?
Vejamos o que a Bíblia diz.
A família de Abraão
Não podemos subestimar a importância de Abraão para as três grandes religiões monoteístas do mundo. Jesus era chamado “filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1.1). O Alcorão menciona Maomé como alguém achegado a Abraão (Surata 3.68).
Deus chamou Abraão para sair de sua terra, dos seus parentes e dos seus pais, para uma terra que ele não tinha idéia de onde seria. E o prêmio da obediência, as bênçãos, seria endereçado a ele e a todas as nações da terra (Gn 12.1-3). A bênção ou a maldição dos povos dependia da posição que Abraão tomasse. A porta da restauração da humanidade perdida foi aberta com o “sim” dado pelo profeta a Deus.
Foi difícil para Abraão meditar sobre a bênção aos seus descendentes, visto que ele e sua esposa estavam idosos e, aos do patriarca, a possibilidade de ter um filho tinha se esgotado. Deus disse que seu filho seria o herdeiro, porém, a paciência de Sara se esgotou primeiro e, “tentando ajudar a Deus”, pediu a Abraão para tomar a serva egípcia Hagar para que a descendência de Abraão fosse iniciada (Gn 16.2). Abraão, que tinha 86 anos de idade, teve um momento de fraqueza, chegando a ponto de concordar que realmente deveria “fazer alguma coisa” para que a promessa de Deus se cumprisse.
Obviamente, esse “não” era o caminho que Deus planejara para dar uma descendência numerosa a Abraão. Imediatamente, começaram os problemas. Sara, a legítima esposa, passou a ser desprezada aos olhos de sua serva Hagar quando esta constatou a gravidez. Sara, então, culpa Abraão, que se isenta da responsabilidade deixando a escrava nas mãos de sua esposa que, por sua vez, maltrata tanto a escrava que Hagar decide fugir para o deserto com o filho.
Com a fuga da escrava, parecia que a história tinha se encerrado, mas Deus não abandonaria Hagar. Ele a amava e também a seu filho. O amor de Deus socorre Hagar no deserto. Um anjo é enviado para ajudá-la e convencê-la a voltar para as tendas de Abraão. Deus dá um nome para o filho da escrava: Ismael, que significa “Deus ouve”. Realmente, Deus ouviu o choro de Hagar!
A escrava obedeceu a Deus e voltou para sua senhora, permitindo que Abraão vivesse ao lado de Ismael. Enquanto o menino crescia, Abraão se alegrava, crendo que a promessa de Deus se cumpriria por intermédio daquele menino, porém, a surpresa bateu à porta daquela família. O filho da promessa ainda estava por vir e não seria filho de uma escrava, mas da própria Sara, ainda que, fisiologicamente, fosse algo impossível. Deus não tinha se esquecido da promessa. Nasceu Isaque e, agora, Ismael tinha um rival. Apesar de Isaque ser o filho prometido, isso não diminuía a tremenda bênção sobre Ismael. Ismael deveria ser abençoado, ser frutífero, multiplicar-se, não apenas de maneira normal, mas “extraordinariamente”. Ele seria pai de doze príncipes e não se tornaria apenas uma nação, mas “uma grande nação”.
A descendência de Ismael
Assim como houve doze patriarcas em Israel e doze filhos de Naor (Gn 22.20), assim também Ismael, considerado por muitos o patriarca dos árabes, gerou doze príncipes árabes.
Uma característica marcante na vida de Ismael era que ele seria como um “homem bravo” (ACF), “jumento selvagem” (NVI) (Gn 16.12). Ismael haveria de ser forte, selvagem e livre, e de trato difícil, desprezando a vida na cidade e amando sua liberdade a ponto de não ser capaz de viver com ninguém, nem com seus próprios parentes.
Ismael não desapareceu das páginas da história sagrada e muito menos ficou sem bênção, meramente por não pertencer à linhagem de Israel. Deus tinha um lugar e um destino reservados para ele. O Messias, da linhagem de Isaque, também seria o Salvador dos demais descendentes de Abraão e de todas as famílias da terra. Entretanto, os descendentes de Ismael se tornaram inimigos ferrenhos de Israel, descendentes de Isaque (Sl 83.1-18). E permanecem assim até os dias de hoje.
A Bíblia cita os doze filhos de Ismael e afirma que seus descendentes se estabeleceram na região que vai de Hávila a Sur (região Leste do Egito e região Norte do deserto de Sinai), na direção de quem vai para Assur (Assíria, região Norte do Iraque). Abraão habitou por um tempo nessa região. Foi também a habitação dos amalequitas e de outras tribos nômades (Gn 25.18; 1Sm 15.7; 27.8). Além da Bíblia, os assentamentos, como, por exemplo, os de Quedar, Tema, Dumá e Nebaiote também são conhecidos, há mais de dois milênios.
Nebaiote, o filho mais velho de Ismael, que, em hebraico, significa “frutificação”, era chefe tribal árabe (1Cr 1.29). Sua descendência continuou a ser conhecida por esse nome (Gn 17.20; 25.16). Uma curiosidade histórica é o fato de que a terra de Esaú ou Edom finalmente caiu sob o controle da posteridade de Nebaiote. Esse clã árabe era vizinho do povo de Quedar. Ambos os nomes aparecem nos registros de Assurbanipal, rei da Assíria (669-626 a.C.). Embora alguns estudiosos rejeitem a idéia, possivelmente eles foram os antepassados dos nabateus.
Os nabateus eram um povo árabe cujo reino se expandiu, no passado, até Damasco, capital da Síria, um país árabe. Perto do século 4o a.C., eles estavam firmemente estabelecidos em Petra, que atualmente é um sítio arqueológico, com ruínas e construções magníficas, localizado na Jordânia, que também é um país árabe.
Quedar, o segundo filho de Ismael, em hebraico significa “poderoso”. Alguns estudiosos dizem que essa palavra significa “negro” ou “moreno”, uma referência aos efeitos da radiação solar na pele das pessoas que habitam os desertos quentes do Sul da Arábia, onde vivem os beduínos. O interessante é que, no livro de Cantares de Salomão (1.5), a esposa diz que “é morena como as tendas de Quedar”. No Antigo Testamento, o termo Quedar é usado genericamente para indicar as tribos árabes — beduínos (Ct 1.5; Is 21.16,17; 42.11; 60.7; Jr 2.10; Ez 27.21). No Salmo 120.5, Quedar e Meseque se referem, metaforicamente, a certas tribos bárbaras. Eram negociantes, numerosos em rebanhos e camelos. Alguns deles eram ferozes e temidos guerreiros. Jeremias predisse o julgamento de Quedar, dando a entender que seria destruído por Nabucodonosor (Jr 49.28,29). Após serem destruídos parcialmente por Nabucodonosor e Assurbanipal, eles diminuíram em números e em riquezas e se dissolveram em outras tribos árabes. Os estudiosos muçulmanos, ao reconstruírem a genealogia de Maomé, fazem-no descendente de Abraão, de Ismael, por meio de Quedar. Sam Shamoun, apologista cristão, nega que Maomé seja descendente direto de Ismael, baseado em pesquisas geográficas e étnicas.
Em face de tudo isso, parece claro que a descendência de Ismael apresentou traços culturais, raciais e lingüísticos com algumas linhagens árabes existentes nos dias de hoje. Além disso, as próprias evidências históricas fortalecem a idéia de que os árabes são descendentes de Ismael, mas isso não significa afirmar que a totalidade dos árabes é descendente de Ismael.
Outras descendências
Descendentes de Jotão
Alguns árabes se referem a si mesmos como descendentes de Jotão (os árabes lhe chamam de Kahtan) e uma das tribos mais famosas que descendiam dele era Sabá, da qual os descendentes fundaram o reino de Sabá, no Iêmen, incluindo a renomada rainha de Sabá (chamada pelos árabes de Bilquis). A visita dessa rainha a Jerusalém, durante reinado de Salomão, é um exemplo de como o povo de Deus teve influência das “arábias”, mesmo nos tempos do Antigo Testamento. Salomão escreveu um dos salmos messiânicos (Sl 72), parcialmente, tendo Sabá em mente (veja os versículos 10 e 15). Jesus falou positivamente sobre a rainha de Sabá (Mt 12.42).
Aparentemente, pelo menos algumas das tribos semíticas adoravam o Deus de Sem, mesmo sem conhecê-lo inteiramente.
Descendentes de Ló
No final do capítulo 19 de Gênesis, observamos o aparecimento de duas linhas genealógicas, os moabitas e os amonitas.
Os moabitas foram descendentes de Ló e sua filha mais velha (Gn 19.30-37). Eles eram arrogantes e inimigos de Israel, mas Deus estava, mais uma vez, usando os babilônios como medida disciplinadora. Isaías (Capítulos15 e 16) e Jeremias (Capítulo 28) predisseram a queda de Moabe e a redução de um povo arrogante a um povo débil. Os moabitas viveram em sítios vizinhos aos seus irmãos amonitas.
Os amonitas eram descendentes de Amon, filho mais novo de Ló (Gn 19.38) e da sua filha mais jovem. Em Juízes 3.13, lemos que esse povo se mostrou hostil para com Israel. Uniu-se em ataque combinado a Israel com outros adversários do povo de Deus. A capital deles era Rabá. Posteriormente, essa cidade tomou o nome de Filadélfia, em honra a Ptolomeu Filadelfo. Atualmente, chama-se Aman, capital da Jordânia. A língua deles era semítica. Hoje, todas aquelas regiões são árabes.4 A raça amonita desapareceu misturada com outras raças semitas.
Embora não seja possível afirmar com precisão, podemos supor, juntamente com muitos estudiosos em genealogias, que há uma grande possibilidade de alguns árabes de hoje serem descendentes não somente de Ismael, mas também de Ló.
Descendentes de Esaú
Esaú, da linhagem de Isaque, teve como uma de suas esposas Maalate ou Basemate, irmã de Nebaiote, da linhagem de Ismael (Gn 28.9; 36.3). As “crianças de Isaque” estavam se misturando com as “crianças de Ismael”, nascendo assim outra linhagem genealógica. Com isso, nasce Reuel, que gerou Naate, Zerá, Samá e Mizá (Gn 36.13). Certamente, muitos árabes hoje apresentam suas genealogias oriundas dessa estranha, mas verdadeira fusão.
Outra descendência de Abraão
Depois que Isaque se casou com Rebeca, Gênesis 25 diz que Abraão desposou outra mulher, Quetura, e com ela teve outros filhos. Abraão, já em idade avançada, criou outra família! Todos os filhos de Quetura, eventualmente, tornaram-se chefes das tribos árabes. Uma dessas tribos era Midiã; os midianitas se opuseram ao Israel do profeta Balaão, porém, nem todos os midianitas eram contra os hebreus. Moisés se casou com Zípora, a filha de Jetro (Êx 2.16-22), que também era chamado de sacerdote de Mídia. Jetro reconhecia o Deus verdadeiro e até mesmo deu bons conselhos a Moisés que agradaram a Deus (Êx 18). Os midianistas, certamente, tiveram alguma revelação de Deus por intermédio de seu pai, Abraão.
Portanto, vemos claramente que os árabes em geral, que reivindicam ter Abraão como pai, certamente pertencem à mesma família e estão ligados a Israel.
A revista Veja apresentou uma reportagem em que as várias populações judaicas não apenas são parentes próximas umas das outras, mas também de palestinos, libaneses e sírios. A descoberta significa que todos são originários de uma mesma comunidade ancestral, que viveu no Oriente Médio há quatro mil anos. Em termos genéticos, significa parentesco bem próximo, maior que o existente entre os judeus e a maioria das outras populações. Quatro milênios representam apenas duzentas gerações, tempo muito curto para mudanças genéticas significativas. O resultado da pesquisa é coerente com a versão bíblica de que os árabes e os judeus descendem de um ancestral comum, o patriarca Abraão.
Os árabes de hoje e as bênçãos dadas à descendência de Abraão
Por conveniência, definimos os árabes como o povo que fala o árabe, como língua mãe, e que vive na península arábica e regiões circunvizinhas. Hoje, existem diferentes tipos de etnias dentro da região árabe. Algumas nações se tornaram árabes, pois foram arabizadas, como o Sudão e a Somália. Outras realmente descendem das linhagens dos antepassados. Mas, afinal, os ismaelitas (filhos de Ismael) são os árabes de hoje?
Flávio Josefo, historiador judeu, declara que Ismael é pai da nação árabe, conforme crêem os árabes. Segundo Josefo, não podemos descartar a profecia de Isaías, que diz que os ismaelitas adorarão o Messias.
Raphael Patai, um judeu, declara em seu livro, Semente de Abraão, que o termo “árabe” está contido nas mesmas inscrições com o termo “Quedar”, filho de Ismael, no século 9 a.C., nas epígrafes assírias. Patai também encontrou provas que mostram que os árabes foram sinônimos dos “nabateus”, descendentes de Nebaiote.
Em verdade, o mundo árabe hoje é oriundo de um mosaico de etnias, haja vista as diferentes genealogias formadas no decorrer da história. Talvez, Mahmud, Hassan ou quaisquer outros árabes, sejam descendentes de Ismael, por intermédio da descendência de Nebaiote ou Quedar, ou até mesmo por Ló, ou pela nova família de Abraão com Quetura. Não podemos também descartar a possibilidade de os árabes serem descendentes da fusão entre as crianças de Isaque com as de Ismael ou até mesmo por intermédio de Jotão. Em todas essas possibilidades, encontramos a genética do pai Abraão.
A promessa de Deus a Abraão foi clara e específica: “O seu próprio filho será o seu herdeiro” (Gn 15.4). Mas a grande questão é a seguinte: esta promessa de descendência deve ser entendida em termos raciais ou espirituais?
O apóstolo Paulo esclarece a questão em sua carta aos gálatas: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e a seu descendente. A Escritura não diz: E a seus descendentes, como falando de muitos, mas como de um só: E a teu descendente, que é Cristo” (Gl 3.16).
Todas as promessas feitas a Abraão são cumpridas em Jesus. É por meio do maior Filho de Abraão, Jesus, que a bênção falada em Gênesis alcançará os povos do mundo. A linhagem racial se torna minúscula quando sabemos que podemos ser herdeiros de Abraão, ainda que não sejamos árabes ou judeus.
Jesus nasceu no tempo determinado por Deus (Gl 4.4), como o “descendente” de Abraão. A relação que temos com Jesus se torna fator determinante se pertencemos realmente a Deus ou não.
Paulo resume isso definitivamente ao declarar: “Se vocês são de Cristo, são descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.26,27, 29).
Louvamos a Deus, pois milhares de árabes encontraram Jesus nestes últimos tempos. E na Bíblia, além dos versículos já mencionados, existem muitos outros que nos dão a esperança de que os árabes, eventualmente, serão salvos. Isaías 60.6,7 relata sobre um tempo em que a glória do Senhor será manifestada: “A multidão de camelos te cobrirá, os dromedários de Midiã e Efá [os descendentes de Abraão por intermédio de Quetura]; todos virão de Sabá [descendentes de Jotão]; trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do SENHOR. Todas as ovelhas de Quedar [descendentes de Ismael] se reunirão junto de ti; servir-te-ão os carneiros de Nebaiote; para o meu agrado subirão ao meu altar, e eu tornarei mais gloriosa a casa da minha glória”.
Finalmente, quando olhamos para o Novo Testamento, lá estavam os árabes no dia de Pentecoste (At 2.11). Deus, realmente, quer que sua mensagem alcance os árabes, porque Allahu Mahabba — “Deus é amor”.
Temos de acreditar que Deus salvará os árabes, seja qual for a sua descendência. Que os milhões de árabes possam ser realmente inseridos na descendência espiritual de Abraão, por intermédio de Jesus, e que a igreja evangélica seja capaz de reconhecer e compreender as promessas dirigidas a esse povo.
O nascimento de Ismael
“Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar.
“E disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai.
“Assim tomou Sarai, mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de Canaã.
“E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos.
“Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o SENHOR julgue entre mim e ti.
“E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face. E o anjo do SENHOR a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur.
“E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai, minha senhora. Então lhe disse o anjo do SENHOR: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos.
“Disse-lhe mais o anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será.
“Disse-lhe também o anjo do SENHOR: Eis que concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael; porquanto o SENHOR ouviu a tua aflição.
“E ele será homem feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos.
“E ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és Deus que me vê; porque disse: Não olhei eu também para aquele que me vê?
“Por isso se chama aquele poço de Beer-Laai-Rói; eis que está entre Cades e Berede.
“E Agar deu à luz um filho a Abrão; e Abrão chamou o nome do seu filho que Agar tivera, Ismael.
“E era Abrão da idade de oitenta e seis anos, quando Agar deu à luz Ismael” (Gn 16.1-16)


Notas de referência:

1 FROESE, Arno.Conflito em família no Oriente Médio. www.chamada.com.br
2 MCCURRY, Don. Esperança para os muçulmanos. Ed. Descoberta, p.8-23, 1999.
3 SHAMOUN, Sam. Ishmael is not the father of Muhammad. www.answering-islam.org
4 The Arabs in Bible Prophecy. www.chrisadelphia.org/archive/arabs.html
517/5/2000, p. 86.

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